quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Museu do ouro - Viana do Castelo















Coleccionador exibe mais de 500 peças em ouro
Na Ourivesaria Freitas, em pleno centro histórico de Viana do Castelo, podem ser apreciadas cerca de 500 peças da colecção particular do proprietário do estabelecimento. Manuel Freitas, que garante ser o detentor da “maior colecção de ouro popular português”, está disponível para orientar visitas guiadas à exposição, que ficará patente ao público pelo menos até ao final deste mês.

Patrícia Sousa
“Em Viana não se trabalha o ouro. Mas Viana do Castelo é o tabuleiro e o traje à vianense é a montra onde todo esse património, essa identidade cultural passa fronteiras e leva à ribalta citadina e europeia a áurea da nossa joalharia, o ouro do Minho, o ouro de Viana”.
Peças em ouro com história e, sobretudo, com alma. Cada uma delas revela ‘segredos’ e transporta-nos a outros tempos, usos e costumes. São cerca de 500 ‘obras de arte’ que Manuel Freitas colecciona há dezenas de anos e que pode apreciar na sua ouriversaria, em pleno centro histórico de Viana do Castelo, até final deste mês. Uma viagem a não perder à “maior colecção de ouro popular português”.
Na Ourivesaria Freitas, em pleno centro histórico da cidade de Viana do Castelo, podem ser apreciadas cerca de 500 peças da colecção particular do proprietário do estabelecimento, de que se destacam um coração de Viana do século XIX, uma imagem da Senhora da Conceição datada do século XVIII e duas argolas do século IV antes de Cristo.
Contas, arrecadas de Viana, laças, medalhas e colares de gramalheira, brincos à rainha são apenas algumas das peças que integram a “maior colecção de ouro popular português” e que Manuel Freitas se disponibiliza para orientar visitas guiadas à exposição.A paixão pelo ouro chegou bem cedo. E Manuel Freitas já possui um valor incalculável. “Já tenho cerca de 800 peças que fui coleccionando ao longo da vida. Em vez de comprar carros e casas, compro ouro e levo uma vida simples”, confidenciou Manuel Freitas. E explicou: “É a minha paixão, mas é preciso naturalmente também muita sensibilidade. Vejo um pouco de alma em cada peça e apaixonei-me pela carga etnográfica que cada uma”, revela. Manuel Freitas estudou, procurou, investigou. “Contactei com o povo. As peças estão intimamente ligadas aos usos e costumes e levam a várias conclusões”, sublinhou o ourives.E exemplificou: “Os colares de contas são as peças mais antigas que as mulheres usavam. Logo na adolescência, as jovens colocavam o colar ao pescoço e nunca mais o tiravam. O colar tinha um nó de correr para o aconchegar ao pescoço quando ia trabalhar. A mulher usava-o até à morte e tinha um valor muito afectivo para o povo. Os brincos, também, eram sagrados”.
Manuel Freitas conseguiu, entretanto, durante uma palestra sobre arqueologia na Alemanha, umas argolas gregas muito antigas. “Já corri muitas cidades da Europa com esta exposição. Deixei de emprestar peças porque acabavam sempre por estragar alguma dessas”. E conta entristecido: “Amassaram-me um coração que descobri num ourives que estava quase a derretê-lo”.
Manuel Freitas começou já lá vão 40 anos. “O coração de Gondomar feito por sete irmãos, solteiros e trabalhadores do campo, e um barco rabelo, uma peça feita por António Martins de Castro, o melhor nesta área e que já tem 75 anos, e que vale simplesmente 36 mil euros” são duas das peças mais “valiosas”.As montras da ouriversaria transmitem história de séculos. Cada peça é única e tem por trás os usos e costumes de quem as utilizava. Por tudo isto, ninguém fica indiferente à romaria da Senhora d’Agonia. As ruas de Viana ficaram bem compostas de pessoas a assistir, no final da semana passada, à passagem das 300 mordomas, que em alguns casos carregam ao pescoço mais de três quilos de ouro em fios e medalhões antigos.O cortejo matinal, no dia seguinte, deu o mote para um ambiente festivo marcado pelo tema genérico ‘O ouro do Minho – O ouro de Viana’, reforçando ainda mais a influência já habitual do metal precioso nestas festas.E por toda a cidade, multiplicam-se as exposições douradas, como é o caso, ainda, do Museu do Traje, que aproveitou a disponibilidade de ourivesarias vianenses e do concelho da Póvoa de Lanhoso – que pretende assumir-se como capital da filigrana – para apresentar uma colecção de 157 peças, sob o título ‘O ouro a que a mulher vianense deu beleza’.


Alma e história de um povo cravadas no ouro
Foi o traje à vianense o grande responsável pelos enfeites, das filigranas, das jóias tradicionais e onde a mulher de Viana se sente como ninguém, ao fazer do seu ‘peito’ uma mostra de bom gosto e de bem trajar. Com os pesados e entrelaçados fios de ouro em volta do pescoço, a par das coloridas vestes etno-folclóricas da região, as mordomas encarregaram-se de ‘acordar’ a cidade, pronta para receber todos os anos, durante a romaria da Nossa Senhora d’Agonia “milhões de turistas vindos das mais diversas regiões do País e também da Espanha, juntamente com os inúmeros emigrantes em férias”. E este ano não foi excepção.Aqui ficam algumas das ‘peças preciosas’, umas que as mulheres ostentam nestes dias de festas, outras que coleccionadores e amantes do ouro guardam religiosamente.



As Laças: peças qu como os brincos à Rainha e as Custódias têm origem no ‘Sequilé’ francês, fundidas e com muitos acabamentos manuais, muito usadas a partir do século XIX pela nobreza e alta burguesia, com diamantes talhados em rosa, sendo nessa época totalmente, feitos à mão. Os ourives, indo de encontro ao gosot popular simplificaram as formas eliminado os diamantes e no seu lugar colocaram pequenas saliências facetadas, em ouro, imitando as pedras. Inicialmente eram usadas como dedalhas, ultimamente usam-se também como alfinetes.




Peça de Filigrana: Esta peça totalmente feita à mão com finíssimos fios de ouro. A nossa filigrana tem a sua origem nos contactos com os Fenícios, tendo os artífices portugueses, levado esta técnica a uma perfeição e requinte jamais conseguidos em qualquer cultura, ou em qualquer parte do mundo. Se observarmos com atenção uma peça de filigrana, custa a crer, ser possível o seu fabrico por processos à primeira vista tão rudimentares. Foi preciso chegar a um primorelevadíssimo de técnica, transmitida de geração em geração para que fios tão finos como cabelos, estejam todos soldados uns aos outros, sem que se tivessem fundido ou deformado nessa operação.



Medalhas e colares de Gramalheira: Gramalheiras, eram as grossas correntes que suspendiam as panelas nos borralhos das casas antigas, ou as correntes que tolhiam o movimento aos prisioneiros. São grossas correntes em ouro, feitas com grandes elos uniformes, ou de secção ovalada tecido com finíssimo fio de ouro, parecendo uma cobra, (daí a sedignação de ‘bicha’, em certas zonas do país). As medalhas de gramalheiras são proporcionaisao fio e feitas com uma base em fina chapa, com aplicações florais e pequenas turquesas e pérolas de imitação.

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